Após um período de espera de 18 anos, o brasileiro tem agora a oportunidade de se aventurarem no espaço como turistas a partir de 2024, graças à Virgin Galactic.
Na semana passada, a Virgin Galactic realizou seu primeiro voo inaugural, marcando um marco significativo para a empresa.
Em 3 de julho de 2023, Bernardo Hartogs, um executivo brasileiro de 67 anos que vive em Londres, está entre aqueles que aguardam ansiosamente por esse momento histórico em suas vidas.
A empresa espacial começará a transportar mais de 800 pessoas, que já adquiriram seus ingressos para o turismo espacial, a partir de agosto, utilizando o foguete Unity.
Hartogs faz parte do grupo de “fundadores”, composto por aproximadamente 40 pessoas que compraram seus ingressos em 2005 e aguardaram pacientemente por 18 anos para ter a oportunidade de viajar ao espaço sem a necessidade de treinamento rigoroso, como os astronautas.
Inicialmente, a Virgin tinha previsto realizar os primeiros voos em 2008.
No entanto, o projeto enfrentou inúmeros obstáculos ao longo do tempo, incluindo um acidente fatal em 2014 envolvendo um veículo de teste e um piloto. Além disso, os custos e prazos do projeto excederam significativamente as estimativas iniciais.
Finalmente, na semana passada, o avião-foguete Unity da Virgin Galactic começou suas operações comerciais, sobrevoando o deserto do Novo México.
A bordo estavam três pesquisadores italianos que conduziram experimentos científicos em condições de gravidade extremamente baixa.
Inscrito Número 30
Hartogs relata que ao longo das décadas, a Virgin Galactic manteve um contato quase semanal com os “fundadores”.
Ele passou por treinamentos, fez algumas viagens ao deserto de Mojave, nos Estados Unidos, e teve algumas conversas com Richard Branson, o bilionário CEO do grupo Virgin e idealizador dos voos espaciais comerciais.
Agora que os voos finalmente começaram, Hartogs foi sorteado com o número 30 na lista de passageiros para o espaço. Cada voo leva quatro passageiros e dois pilotos, e acredita-se que ocorrerá um voo por mês.
O brasileiro estima que sua vez de viajar ao espaço será entre abril e junho de 2024.
A partir de 2026, com o auxílio de novas tecnologias em desenvolvimento, a Virgin planeja aumentar a frequência dos voos para uma vez por semana.
Bernardo Hartogs
Bernardo Hartogs será o passageiro de número 30 na Virgin Galactic.
Hartogs afirma que seu entusiasmo com a perspectiva de viajar no foguete não diminuiu ao longo dos anos.
“Eu vou sair da atmosfera do nosso planeta, o que deve ser uma sensação inimaginável”, disse Hartogs à BBC News Brasil.
Quando comprou seu ingresso, o executivo do setor de petróleo tinha menos de 50 anos.
Ele descobriu por acaso a possibilidade de viajar para o espaço como turista, pois sua filha era amiga de infância de um dos executivos da Virgin.
Um dia, durante um encontro em um café, o executivo compartilhou com Hartogs os planos pioneiros da empresa.
“Ele disse: ‘Estamos planejando enviar pessoas ao espaço. E você pode comprar um ingresso de fundador. Quem pagar agora poderá ser um dos primeiros a viajar.’
Ele me enviou um DVD, que eu assisti em casa. Logo em seguida, liguei para ele e disse: ‘Eu vou comprar’.”
Hartogs tem uma paixão por velocidade e aventuras.
Ele é proprietário de uma coleção de carros antigos de Fórmula-1, incluindo modelos como Lotus-15, Lotus 18, Alfa Romeo e Ford GT 40.
Ele costuma pilotar esses veículos clássicos em circuitos renomados como Silverstone e Monza.
No entanto, mesmo com velocidades superiores a 200 quilômetros por hora em terra, a experiência de Hartogs no foguete será em uma escala completamente diferente.
Ele viajará a uma velocidade próxima de Mach 3, ou seja, mais de 3 mil quilômetros por hora, o que equivale a três vezes a velocidade do som.
O Unity, veículo utilizado pela Virgin Galactic, é classificado como suborbital, o que significa que não pode atingir a velocidade e altitude necessárias para entrar em órbita e permanecer no espaço enquanto orbita a Terra.
O Unity é inicialmente transportado por um avião de grande porte até uma altitude de aproximadamente 15 km (50 mil pés), momento em que o foguete é lançado.
Em seguida, um motor localizado na parte traseira do Unity é ativado.
A altitude máxima alcançada pelo Unity é de cerca de 90 km (295 mil pés).
Após um curto período, a gravidade começa a puxar a espaçonave de volta à Terra.
No entanto, durante a subida, os passageiros têm a oportunidade de desfrutar de vistas deslumbrantes e experimentar alguns minutos de ausência de gravidade.
Os passageiros podem soltar os cintos de segurança e flutuar em direção a uma janela, antes que o avião estabilize sua queda e deslize de volta para a superfície terrestre.
Amadurecimento
Atualmente, aos 67 anos, ele compartilha que essas quase duas décadas de espera foram essenciais para fortalecer sua determinação em viajar para o espaço.
Além disso, esse período também ajudou a convencer seus familiares, que inicialmente tinham preocupações em relação à aventura.
“É loucura pensar que estarei no espaço em seis ou sete meses. Mas [essa espera] ajudou a convencer melhor minha família a me dar permissão para ir”, ele diz, entre risos.
Apesar das brincadeiras, ele afirma que seus familiares apoiam seu sonho.
“Tive a oportunidade de falar com Richard Branson quando ele retornou de sua viagem ao espaço [em 2021], e ele me disse que essa experiência só pode ser compreendida quando se viaja de fato. É algo que muda completamente a sua perspectiva.”
Em 2005, quando os primeiros ingressos para o espaço foram vendidos, foi divulgado que os chamados “fundadores”, como Bernardo Hartogs, pagaram US$ 200 mil.
Atualmente, a Virgin Galactic vende o pacote de viagem, com duração de 90 minutos, por US$ 450 mil (mais de R$ 2 milhões).
A empresa afirma que, apesar do preço elevado, há uma alta demanda por viagens espaciais, com mais de 800 pessoas já inscritas.
Richard Branson
Richard Branson é um dos magnatas que está envolvido na atual corrida pelo turismo espacial comercial.
Com o passar dos anos, várias outras empresas também entraram no mercado espacial do turismo.
Em 2021, a Virgin Galactic perdeu a disputa para levar passageiros pagantes ao espaço para a Blue Origin, empresa liderada pelo bilionário Jeff Bezos.
Dennis Tito, um multimilionário americano, se tornou o primeiro turista espacial do mundo ao pagar US$ 20 milhões, um valor cem vezes maior do que o pago pelos “fundadores” da Virgin.
A Amazon, empresa fundada por Jeff Bezos, possui um sistema de foguetes e cápsulas chamado New Shepard.
Embora seja uma abordagem diferente do Unity, da Virgin Galactic, ambos têm o mesmo objetivo de levar pessoas em viagens curtas acima da atmosfera.
A entrada da Virgin Galactic no mercado representa uma nova era para o turismo espacial, com a perspectiva de voos regulares de várias outras empresas além da Virgin, Blue Origin e SpaceX, liderada por Elon Musk, que também está ativa nesse setor.